Poderá a economia-mundo capitalista sobreviver à ascensão chinesa?

04/04/2023 17:14

por Fábio Pádua dos Santos

O sistema social histórico em que vivemos está em transição. Se será mais livre e igualitário ou se será mais autoritário e hierárquico ainda não sabemos. Mas já é possível afirmar que a elevação da renda média da China está colocando a relação centro-periferia em xeque e com ela a economia-mundo capitalista como conhecemos.

Quando Raúl Prebisch publicou em 1949 o famoso Manifesto Latino-americano, ele estabeleceu as bases teóricas da relação centro-periferia, demonstrando que a propagação desigual do progresso técnico, a deterioração dos termos de troca e a vulnerabilidade externa dos países primário-exportadores resultavam em uma hierarquia de atividades econômicas favorável aos países industrializados.

Immanuel Wallerstein, 25 anos depois, ao publicar o primeiro volume de The Modern World-System, demonstrou que a relação centro-periferia proposta por Prebisch era uma característica fundante da economia-mundo capitalista. Além de ser anterior à Revolução Industrial, ela era estável através do tempo. O sociólogo estadunidense propôs ainda a existência de uma camada intermediária, a semiperiferia, responsável por assegurar o caráter desigual do sistema.

Cético em relação à existência e à estabilidade das três zonas econômicas, Giovanni Arrighi e Jéssica Drangel, em 1986, propuseram uma definição empírica da estratificação mundial da riqueza a partir da apropriação pelos países das rendas globais da divisão mundial do trabalho. Dadas as fontes disponíveis à época, o estudo corroborou para o século XX as contribuições de Prebisch e Wallerstein. Como base nessas evidências, Arrighi propôs que a mobilidade dos países na hierarquia mundial da riqueza era a exceção e não a norma. Nesse sentindo, a industrialização de alguns países periféricos e semiperiféricos poderia ser interpretada como periferização das atividades industriais, pois o comando econômico relativo permaneceu estável para a maioria dos países do globo. A partir disso ele argumentou que em sua grande maioria as experiências de desenvolvimento do século XX foram uma grande ilusão.

Na América Latina, os herdeiros da CEPAL – Comissão Econômica para Desenvolvimento da América Latina e Caribe – não tardaram em revisitar o esquema clássico de Prebisch. Nas décadas de 1980 e 1990, o fracasso das experiências desenvolvimentistas e a crise da dívida externa exigiram que fosse considerado na relação centro-periferia, além da propagação desigual do progresso técnico, os regimes monetários internacionais e a capacidade dos Estados de concentrarem meios de coerção. Apesar de teoricamente intuitivo, a verificação empírica das hierarquias mundiais segue sendo um desafio. Não obstante, isso não impediu que Maria da Conceição Tavares afirmasse em 2010 que não existia mais centro e periferia.

Em 2017, aproveitando novas estimativas de renda e população mundiais, Şahan Karataşlı aplicou a metodologia de Arrighi e Drangel para um período mais longo. As novas evidências por ele encontradas indicam que a estrutura centro-periferia-semiperiferia é muito mais sujeita a mudanças do que se supunha. Essas transformações correspondem de tempos em tempos a revoluções tecnológicas, redistribuição espacial das atividades produtivas, bem como redefinição dos arranjos institucionais, semelhantes ao que Schumpeter denominou de “destruição criadora”.

O ressurgimento da China e o aumento da sua renda per capita levanta uma pergunta: pode a China alterar a hierarquia mundial da riqueza? Os dados sugerem que sim.

Desde 1979 com a política de controle de natalidade, a participação relativa da China na população mundial vem declinando. Por outro lado, a parcela da China sobre a renda mundial saltou de menos de 2% em 1990 para aproximadamente 20% em 2021 (ver Figura 1). Isto significa que nas últimas décadas a China está movendo aproximadamente 1/5 da população mundial para os estratos intermediários da renda mundial.

 

Figura 1 – Participação Relativa da China na População e no Produto Mundial Bruto.

Elaboração: Fábio Pádua dos Santos

Fonte: Banco Mundial (2023)

O efeito deste deslocamento sobre a hierarquia mundial da riqueza pode ser observado quando comparamos em diferentes anos a estratificação da renda.

Sem a China, a hierarquia mundial da riqueza segue o padrão identificado por Arrighi e Drangel segundo o qual a maior parte da população mundial viveria nos estratos inferiores de renda (ver Figura 2a).

Com a China, esse padrão se transforma nas últimas décadas. No imediato pré-pandemia já não é mais possível afirmar que a maior parcela da população mundial vive nos estratos inferiores de renda (ver Figura 2b).

   

Figura 2a – Sem a China

Figura 2b – Com a China

Figura 2 – Estratificação Mundial da Renda

Elaboração: Fábio Pádua dos Santos

Fonte: Banco Mundial (2023)

Ao se tornar a oficina do mundo, a China está conseguindo elevar a renda média de seus cidadãos a despeito de sua gigantesca população e dos desafios internos que ela coloca. Portanto, a relação centro-periferia-semiperiferia não segue estável como imaginou Wallerstein e parece estar se transformando como propôs Tavares.

Qual a implicação dessa transformação estrutural para a ordem mundial? Poderá a economia-mundo capitalista sobreviver à ascensão chinesa? Provavelmente não! A civilização capitalista não foi capaz de generalizar globalmente a liberdade e a igualdade em harmonia com a natureza na qual está apoiada.

A incorporação da China e a consequente elevação da renda média chinesa, combinada com esforços de generalização do padrão de consumo ocidental no Leste da Ásia, têm introduzido pressões por acesso a recursos naturais e por controle tecnológico que alteram a dinâmica do equilíbrio de poder no interior do moderno sistema interestatal.

Isso tem tornado mais complexas as condições para a construção de uma governança global capaz de respeitar a diversidade de povos e modos de vida no mundo. Não obstante, o que estamos observando do lado norte ocidental é a intensificação da rivalidade interestatal cujo desfecho ainda é imprevisível.


Fábio Pádua dos Santos – Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSC. E-mail: 

Texto publicado originalmente em: Observatório de Geopolítica do Jornal GGN: Poderá o mundo capitalista sobreviver à ascensão chinesa? (jornalggn.com.br)

Inteligência Artificial Simbólica e Conexionista

03/04/2023 16:26

por Eduardo Barros Mariutti

O sistema-mundo moderno tem como uma de suas principais características o entrecruzamento entre a rivalidade interestatal e a concorrência intercapitalista. As pressões competitivas que quem emanam do capital e da rivalidade estratégica favorecem uma postura pragmática por parte dos atores: é muito comum realizar tarefas e desenvolver produtos sem que se compreenda exatamente como eles funcionam. Basta que, de um ponto de vista instrumental, a engenhoca ou o procedimento funcione. A explicação racional e científica fica para depois. Paul Cilliers(Complexity & Postmodernism) desenvolve com maestria essa ideia ao destacar que manipulamos genes (gene splicing) sem entender plenamente como eles interagem, assim como a indústria farmacêutica produz fármacos sem dominar com clareza o modo como eles funcionam e quais são seus efeitos colaterais. Isso para não falar de um exemplo clássico: as máquinas a vapor foram construídas por homens práticos e só muito tempo depois surgiu a termodinâmica que, como se sabe, transformou radicalmente a física teórica (Manuel De Landa, War in the age of intelligent Machines).

Com a inteligência artificial (IA) isto não é diferente. Para simplificar, podemos dizer que este ramo é baseado na disputa entre duas grandes tradições: a simbólica e a conexionista. A primeira é a mais antiga e opera com a noção de que inteligência é a capacidade de manipular símbolos que representam o mundo e as diversas experiências fenomenológicas que vivenciamos. Esta manipulação se concretiza por meio de inferências lógicas derivadas de um conjunto de regras formais que delimitam o que é e o que não é permissível. Há aqui pelo menos dois pressupostos: i) a inteligência humana é simbólica (opera por representações em um jogo formal de signos, significantes e significados); ii) é necessário distinguir sintaxe de semântica. No primeiro caso, a automação não encontra muitas dificuldades, exatamente por envolver regras formalizadas. O desafio para as máquinas “inteligentes” está na semântica que, para os humanistas mais radicais, é uma barreira intransponível: elas jamais poderiam ter uma compreensão genuinamente subjetiva e sensorial do que os símbolos significam para um humano.

Embora seus primórdios já possam ser identificados na teoria matemática da informação de Claude Shannon (1948) e nos estudos sobre a neuroplasticidade associados a Donald Hebb (1949), a tradição conexionista ganha contornos mais definidos no final da década de 1960, em uma época em que a memória e a capacidade de processamento dos computadores eram insuficientes para testar os seus modelos e gerar aplicações práticas. A ideia básica desta vertente é que o que chamamos de inteligência não envolve representações do mundo por signos que obedecema um conjunto de regras lógicasmas um sistema de aprendizado por estímulos e exemplos assimiláveis por redes neurais que produzem um sistema de cognição distribuída capaz de se auto-organizar. As partes tomadas isoladamente não importam. O que produz as classificações – e, portanto, o comportamento inteligente – é o conjunto da rede: interpretações e operações complexas emergem da interação entre unidades simples de processamento (binárias) que respondem de forma não-linear às informações que recebem do conjunto. Logo, a rede é capaz de conter muito mais informação do que a simples soma dos seus componentes e, por conta disto, a totalidade das informações cognitivas ela nunca pode ser concentrada ou centralizada em uma região ou instância particular (o pesadelo do burocrata).

A IA conexionista começou a ganhar proeminência na década de 1980, em sinergia com o surgimento de computadores com memória e capacidade de processamento capaz de simular operações e gerar aplicações práticas deste modelo. Hoje há uma clara preponderância da IA conexionista sobre a simbólica. Além das exigências de hardware, este tipo de IA depende de datasets gigantescos, só acessíveis aos países centrais e às grandes corporações. Há, além dessa assimetria, um problema ainda mais candente: depois que as redes neurais são adequadamente calibradas, elas passam a operar de forma acelerada e opaca, alimentando discursos tecnofóbicos que, embora muito populares, tendem a ser ignorados pelos Estados centrais e pelas grandes corporações. Não existe nenhum complô ou algo do gênero. A opacidade e a imprevisibilidade da tecnologia de ponta aplicada não são frutos de caprichos de burocratas ou empresários: nunca se sabe que direção específica uma onda tecnológica emergente pode tomar. Quem está efetivamente na disputa pela primazia tecnológica opera sempre em águas ainda não plenamente cartografadas e, sobretudo, aposta em todos os cavalos que puder, pois a penalização pelo atraso costuma ser devastadora.

Eduardo Barros Mariutti – Professor do Instituto de Economia da Unicamp, do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas da UNESP, UNICAMP e PUC-SP e membro da rede de pesquisa PAET&D.

Texto publicado originalmente em: Observatório de Geopolítica do Jornal GGN: Inteligência Artificial Simbólica e Conexionista (jornalggn.com.br)

Logística da Percepção

29/03/2023 14:43

por Eduardo Barros Mariutti

Antoine-Henri Jomini (1779-1869) é considerado um dos pioneiros no estudo da logística militar, a “arte prática de mover exércitos”. Ele ressalta a importância da organização e do suprimento eficaz de recursos – munição, alimentos, assistência médica etc. – para a conduta eficaz da guerra. Contudo, pelos critérios contemporâneos, sua visão pode ser considerada muito restrita: ele pensava a questão do ponto de vista da campanha militar circunscrita a um objetivo estratégicoAs guerras totais do século XX, contudo, demandaram um alargamento dessa definição. O Almirante Henry Effingham Eccles em Logistics in the National Defense (1959), por exemplo, afirma que a logística deve ser vista como o vínculo entre as operações militares e a economia nacional, a qual deve ser capaz de responder de forma rápida e sustentada à incrementos abruptos da demanda militar por recursos humanos e materiais por conta de conflitos inesperados.

No entanto, Paul Virilio utiliza de forma ainda mais ampla este princípio. Em Guerra e Cinema (2005) ele afirma que atividade militar sempre envolveu alguma forma de gestão da imagem – mapas rudimentares, olheiros a cavalo etc. – e da comunicação para planejar e conduzir as batalhas. Mas a Primeira Guerra Mundial – um conflito baseado na motorização – explicitou a necessidade de desenvolver uma logística da percepção, isto é, de criar formas de visualização do conjunto das forças em antagonismo no campo de batalha e, também, de se aprimorar sistemas de processamento e de transmissão de informações que possibilitem a coordenação e a execução da atividade militar de forma cada vez mais acelerada e preditiva. A Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria intensificaram ainda mais esta tendência. Os tempos de resposta se tornaram extremamente curtos, comprimidos pela tensão entre o tempo real e o delay.

O fato é que a logística da percepção explicita o deslocamento do eixo estratégico centrado no campo de batalha não apenas para o conjunto de organização social (como já havia sugerido Eccles), mas também para o campo multidimensional da visão e da percepção por meio de um intricado conjunto de sistemas sociotécnicos baseados crescentemente na automação da percepção e na inteligência artificial. Nas palavras do próprio Virilio: “Assim, ao lado da ‘máquina de guerra’ existe desde sempre uma máquina de espiar (ocular, ótica e depois eletro-óptica), capaz de dar aos combatentes, mas sobretudo aos comandantes, uma visão perspectiva da ação militar em curso.” Ver sem ser visto e causar dano furtivamente se converte em uma vantagem decisiva neste tipo de guerra, fato que altera significativamente as estratégias de dissuasão e a própria conduta da guerra.

Pode-se afirmar com segurança que o espaço da guerra não é mais centrado exclusivamente no convencional espaço-de-lugares, mas em um espaço de fluxos (John Ruggie) que se manifesta predominantemente no campo eletrônico da percepção sintética e multiespectral da realidade, uma zona baseada na comunicação de informações destinada a gerir os sistemas de projeção de poder. James Der Derian (“The (s)pace of international relations: simulation, surveillance, and speed”) usa um trocadilho bastante ilustrativo: esta transformação evidencia uma passagem da centralidade do campo de batalha (battle-site) para o campo de visão da batalha (battle-sight), fato que sobreleva a importância da camuflagem e das táticas diversionistas no combate. Não é exagerado dizer que os conflitos contemporâneos são fortemente baseados na percepção e na dissimulação (deception, em tradução livre).

Eduardo Barros Mariutti – Professor do Instituto de Economia da Unicamp, do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas da UNESP, UNICAMP e PUC-SP e membro da rede de pesquisa PAET&D.

Brasil e China ou Lula e Xi Jinping e a economia-mundo capitalista.

27/03/2023 18:55

por Pedro Vieira

A visita de Lula à China nos próximos dias nos convida a refletir sobre as condições em que nosso presidente e Xi Jinping se encontram, as quais vão, em última instância, determinar o que cada lado pode oferecer e conseguir nas negociações.

Começaremos pela conjuntura da economia-mundo capitalista a cujo funcionamento China e Brasil estão inseparavelmente ligados. Um aspecto fundamental dessa conjuntura e que vai continuar determinando o futuro do sistema mundial nos próximos anos é o conflito EUA-China. É preciso ter em mente que se os EUA não aceitam ter concorrentes diretos nas dimensões políticas, econômicas, militares e tecnológicas, por seu lado a China não admite ser impedida de perseguir seus objetivos, que podem ser assim resumidos: continuar avançando para se equiparar aos países do centro da economia-mundo nas mesmas quatro áreas que os EUA querem continuar comandando e para tanto precisam, e estão decididos, a conter a China. Dado que os dois lados não devem mudar suas posições, sob várias formas (políticas, econômicas, tecnológicas e mesmo militares) o embate continuará e se constituirá no principal elemento definidor da geopolítica mundial nas décadas vindouras. As divergências dos dois países frente à guerra Rússia-Ucrânia é mais uma expressão desse “confronto estratégico”.

A recente visita do presidente Xi Jinping à Rússia expressa a autonomia chinesa no exercício de sua política externa, autonomia que, além de ser um traço absolutamente essencial do Estado instituído a partir de 1949 pelo Partido Comunista Chinês (PCC), está amparada em uma economia que é a segunda do mundo e na liderança do PCC, a qual parece ter se consolidado com os avanços econômicos e tecnológicos conseguidos desde os anos 1980, quando o Partido decidiu que a China aproveitaria todas as oportunidades que a economia-mundo capitalista oferecia para desenvolver a economia chinesa. Os resultados todos conhecemos. De um dos países mais pobres do mundo, a China se transformou na segunda maior economia do globo e hoje é um polo de desenvolvimento científico e tecnológico que disputa com o Ocidente a liderança em vários segmentos, como trens de alta velocidade, inteligência artificial e telecomunicações, entre outros.  E Xi Jinping, que já está em seu terceiro mandato, de fato representa e fala em nome desse enorme poderio econômico-tecnológico-militar.

E o Brasil e Lula nessa conjuntura? Em primeiro lugar, desde a década de 1980 – quando a China enveredou por uma trajetória de desenvolvimento econômico jamais vista, o Brasil abandonou o nacional desenvolvimentismo que o fez subir da periferia para semiperiferia e submeteu-se ao receituário liberal que demoniza o Estado e qualquer forma de nacionalismo. Desde então, as elites políticas e econômicas não conseguem definir uma estratégia de desenvolvimento que continue elevando a renda per capita e que diminua as vergonhosas desigualdades econômicas e sociais. A falta de rumo se expressa no fato de que governos liberais (Collor, FHC, Temer, Bolsonaro) e mais estatistas/desenvolvimentistas (Lula/Dilma/Lula) venham se intercalando desde os anos 1990 e a descontinuidade decorrente tem como consequências: 1) o Brasil, ao contrário da China, vem perdendo espaço na hierarquia mundial da riqueza e de poder; 2) o Estado brasileiro encontra-se politicamente dividido, financeiramente debilitado; 3) a economia brasileira se desindustrializa e depende muito da exportação de commodities agrícolas e minerais, porque não tem sido capaz de se articular às cadeias produtivas mundiais mais dinâmicas que giram em torno da microeletrônica; 4) carências econômico-sociais que demandam respostas imediatas do Estado.

Para enfrentar minimamente os desafios da realidade acima descrita, Lula precisa, em primeiro lugar, superar as adversidades que a conjuntura político-econômica brasileira iniciada com o golpe parlamentar de 2016 e magnificadas nos quatros anos de Bolsonaro criaram para as bandeiras políticas e econômicas da coalisão que o elegeu: desenvolvimento econômico com protagonismo do Estado e proteção social. Atualmente essas adversidades ou obstáculos são criados por um congresso majoritariamente conservador nos costumes e partidário de medidas político-econômicas liberais, no que é apoiado pela mídia corporativa (rádios, tvs, jornais) e pelas forças capitalistas pró-mercado e contrárias ao estado desenvolvimentista.

Esse conjunto de forças de oposição que historicamente sempre foi pró-EUA tende a desconfiar da China e a dificultar qualquer coisa parecida com a política externa ativa e altiva dos dois governos anteriores de Lula (2003-2010). As possibilidades (recursos abundantes proporcionados pelo boom das commodities que também redundaram em apoio político interno) de tal política e do protagonismo brasileiro na política mundial ficaram para trás e em apenas 3 meses na cadeira presencial Lula não teve tempo e nem condições para delinear sua política para com a China.

Portanto, o Lula que vai encontrar Xi Jinping é um presidente ainda inseguro, que não tem uma política para a China que conte com amplo apoio interno, e que não pode mobilizar os (minguados) recursos e o poder do Estado brasileiro para negociar questões mais estratégicas, como transferência de tecnologias de ponta e grandes projetos de infraestrutura, que exigem um planejamento de longo prazo e que dependeriam de contrapartidas brasileiras para além dos quatro anos de seu governo.

Os argumentos apresentados acima nos conduzem à seguinte conclusão: Lula e o Brasil não dispõem das condições para aproveitar o que Xi Jinping e o Estado Chinês têm a oferecer, até porque laços mais estreitos com a China, que está muito interessada em ampliar e aprofundar sua presença na América Latina, inevitavelmente seriam interpretados como apoio a ela no conflito com os EUA.


Pedro Vieira – Professor da Pós-Graduação em Relações Internacionais da UFSC e coordenador do Grupo de Pesquisa em Economia Política dos Sistemas-Mundo – GPEPSM (ufsc.br)

Texto publicado originalmente em: Observatório de Geopolítica do Jornal GGN: Brasil e China ou Lula e Xi Jinping e a economia-mundo capitalista (jornalggn.com.br)

Tecnologia e as transformações no campo de batalha: nota sobre Antoine Bousquet e Grégorie Chamayou.

23/03/2023 16:09

por Eduardo Barros Mariutti

O que hoje chamamos de geopolítica começou a se desenhar em uma época em que, por exemplo, não se diferenciava com clareza geografia de história, o que inclinava as análises para uma temporalidade mais dilatada, centrada na longa duração (Vidal de La Blache e, mais recentemente, Fernand Braudel são os exemplos mais óbvios desta característica). No entanto, sempre tendo como referência esse quadro temporal mais dilatado, os estudiosos da geopolítica também realizam estudos de conjuntura, adentrando na temporalidade fugaz dos acontecimentos (histoire événementielle), o tempo explosivo que “enche a consciência dos contemporâneos, mas não dura muito, mal se vê a sua chama” (Braudel – História e Ciências Sociais).

Algumas transformações importantes ocorrem também em uma temporalidade peculiar, mais acelerada que a lenta dissolução das estruturas, porém mais lentas que a cena política. Formam uma espécie de quadro intermediário, que ajuda a ligar a longa duração com a cena política. Utilizarei aqui The Eye of the War, um livro brilhante publicado por Antoine Bousquet em 2018 para explorar o impacto da sociotécnica nas transformações no campo de batalha desde o final do século XIX.

Ainda persiste no imaginário público a percepção de que as guerras são decididas em batalhas capitais, onde um grande número de soldados se engaja em um combate acirrado até que um dos lados saia derrotado pelo adversário. Como já foi sugerido, esta imagem está cada vez mais distante do que efetivamente ocorre nos conflitos militares contemporâneos. Isto por pelo menos dois motivos. Em primeiro lugar, por conta do maior alcance e letalidade das armas, as tropas ficam muito mais dispersas e ocultas, pois qualquer grande aglomeração de soldados sem cobertura e à vista do inimigo se torna presa fácil da artilharia e da aviação inimiga. O segundo aspecto é que a conduta da guerra se entrelaçou tanto com o conjunto da vida social que, hoje, é cada vez mais difícil separar a dimensão militar da civil do conflito.

O surgimento dos rifles com balas cônicas em propelentes sem fumaça foi um aspecto decisivo na reconfiguração do campo de batalha. Além da lentidão na recarga, um mosquete fazia muita fumaça e tinha um alcance letal de cerca de 75 metros. Pressupunha, portanto, uma zona de contato muito estreita com o adversário. A fumaça dos disparos não só revelava a posição do atirador como recobria o campo de batalha, reduzindo a visibilidade, exigindo uma maior proximidade entre os antagonistas. Os fuzileiros da primeira guerra mundial podiam acertar alvos a 300 metros de distância, com uma cadência de tiro muito superior. Se somarmos a isto o apoio de metralhadoras e da artilharia com um alcance de até 20 quilômetros (fogo indireto), não fica difícil concluir que a distância entre os combatentes aumentou significativamente, assim como a necessidade de ocultamento e de cobertura contra o fogo inimigo. Desde então, o campo de batalha não parou de se transformar, tornando-se cada vez mais vasto e mais disperso, demandando armas com alcance e precisão cada vez maior.

O que deve ser retido é que os novos armamentos favoreceram uma maior dispersão dos combatentes e, ao mesmo tempo, intensificaram a disputa no campo da percepção das forças em conflito. Frente a um fogo inimigo com alta letalidade e precisão, sem cobertura, qualquer grande concentração dos soldados seria dizimada com relativa facilidade. Além disto, pequenas unidades passaram a contar com uma grande capacidade de fogo, tornando-se capazes de gerar uma devastação que, com os armamentos antigos, exigiriam pelo menos um batalhão. Isto esvaziou o campo de batalha e obrigou as tropas a reduzirem a sua visibilidade, usando camuflagens e outras táticas de ocultamento. Ao contrário dos uniformes espalhafatosos que eram a norma pelo menos até o final do século XIX, a orientação dominante passou a ser tentar ficar invisível e, ao mesmo tempo, desenvolver técnicas de sensoriamento remoto para identificar as posições dos combatentes adversários e de seus apoios logísticos.

Dada a capacidade de projetar dano devastador a longa distância, a capacidade de ver sem ser visto pelo adversário se torna uma vantagem decisiva. A Guerra Fria levou ao paroxismo este princípio, colocando no horizonte “uma guerra realmente global, que se manifestaria quase simultaneamente em todo o planeta, resultando em um único e frenético espasmo nuclear” (Bousquet). No entanto, à sombra de um eventual engajamento apocalíptico entre os EUA e a URSS, os grandes embates entre superpotências cederam lugar a conflitos mais descontínuos e espacialmente fragmentados. Conflitos armados geográfica e temporalmente bem definidos (i.é., com começo e fim claramente delimitados) são cada vez mais raros. O que se verifica hoje é uma condição muito mais indeterminada, nem guerra nem paz, marcada por surtos momentâneos de violência que se espalham pelo planeta, baseados em um imbricamento crescente entre os sistemas preditivos de vigilância e os dispositivos de projeção remota de dano.

Precisamente por conta desta característica, Grégoire Chamayou (Teoria do Drone) afirma que estamos testemunhando a substituição do campo de batalha “tradicional” – onde quem ataca também pode ser atacado – pelo princípio da caça, contudo, isto se processa em um cenário em que, a princípio, a presa pode estar em qualquer parte do planeta, sem direito a nenhum santuário. Logo, se olharmos a questão do ponto de vista de quem é caçado, a questão de como funcionam os sistemas de vigilância é prioritária. Apenas mediante a compreensão de como opera o olho da guerra é possível aos caçados permanecerem ocultos, longe da mira dos caçadores. E a melhor forma de fazer isto é infiltrar-se na população, evitando marcadores e comportamentos que podem deflagrar alertas de risco. O paradoxo é que, quanto mais furtivo o “inimigo” se torna, mais se retroalimenta a lógica securitária que tende a despedaçar as liberdades civis e, ao mesmo tempo, abrir um gigantesco mercado colonizado pelas big techs.

Eduardo Barros Mariutti – Professor do Instituto de Economia da Unicamp, do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas da UNESP, UNICAMP e PUC-SP e membro da rede de pesquisa PAET&D.

Texto publicado originalmente em: Observatório de Geopolítica do Jornal GGN: Tecnologia e as transformações no campo de batalha (jornalggn.com.br)

Automação da Percepção e rivalidade estratégica: a captura do futuro

16/03/2023 14:35

por Eduardo Barros Mariutti

Sistemas preditivos de vigilância e armamentos autoguiados operam mediante uma percepção automatizada do realconstituída por um conjunto de sensores que captam estímulos indetectáveis pelo sensório humano de forma extremamente acelerada. Paul Virilio chamou isto de automação da percepção. O final da década de 1980 foi marcada pela generalização de sistemas “inteligentes”, isto é, computadores em rede que interpretam eletronicamente o sentido dos acontecimentos por meio de uma análise probabilística dos futuros potenciais que se desdobram do atual. Ver, neste sentido, é sempre prever e, também, memorizar. Só captamos o sentido de um acontecimento combinando o passado imediato (memória) com inferências sobre seus futuros possíveis. Fazemos isso quanto atravessamos uma rua ou andamos pelo shopping lotado. As máquinas perceptivas também fazem. Logo, toda percepção maquínica exige algum grau de inteligência artificial.

As bases do processo de automação da percepção já se insinuam na renascença, quando as próteses de visão (lunetas e lentes) entraram em sinergia com a perspectiva linear e as demais técnicas de geometria projetiva, acelerando o processo de matematização do campo visualum dos principais fundamentos de todas as técnicas e agenciamentos contemporâneos associados à vigilância e à conduta a guerra. Mas foi a Guerra Fria e o sistema de dissuasão nuclear que acelerou a automação das formas de percepção do campo de batalha – sistemas de satélites, radares, sonares etc. – e da sofisticação dos armamentos. Como afirma Antoine Bousquet (The Eye of War), testemunhamos hoje a combinação de dois movimentos que caminhavam em sentido oposto. A rivalidade estratégica de ponta tende a formar um sistema heterogêneo de vigilância global que, contudo, é cada vez mais granular, capaz de identificar como alvos até mesmo indivíduos.

Os alvos podem ser previamente conhecidos ou designados como “ameaças” potenciais identificadas pelo seu comportamento e/ou redes de associação interpessoal, um procedimento que é formalmente designado como pattern of life analysis Por meio de uma análise de risco baseada em inferências calibradas pela noção de complexidade, um conjunto heterogêneo de dispositivos e agenciamentos que antes operavam apenas na escala macroscópica e regida pela ideia de um campo de batalha formal, onde a identidade dos alvos era irrelevante, dado que o que realmente importava era o fato de serem combatentes (i.é. membros de uma entidade coletiva engajada em um conflito formalmente declarado)hoje se tornaram capazes de identificar e causar dano em alvos particulares, operando inclusive em territórios que não são considerados oficialmente zonas de guerra. Essa dissolução do campo de batalha tende a ofuscar as distinções tradicionais entre paz e guerra e a generalizar para toda a sociedade uma lógica securitária orientada pela noção de risco.

Contudo, é na dimensão preditiva que repousa uma importante tensão. Os modelos preditivos anteriores ao desenvolvimento do princípio da complexidade eram fundamentados em uma estatística frequentista, isto é, operavam predominantemente inferindo padrões com base nos dados extraídos da experiência passada e, desse modo, não conseguiam captar o novo e o inesperado. A aleatoriedade tendia a ser vista não como um elemento constitutivo da realidade, mas como um efeito subjetivo derivado da falta de dados ou de capacidade de processamento do observador. As aplicações práticas baseadas nos sistemas não-lineares promoveram uma transformação ontológica: a aleatoriedade foi incorporada à própria dinâmica da realidade, abalando com isto o naturalismo e o mundo newtoniano. No entanto, a abertura para o inusitado que lhe é subjacente tende a ser obstruída pelas diretrizes gerais que conduzem os dispositivos e agenciamentos de vigilância. Paulo Arantes (O Novo Tempo do Mundo) destacou com bastante precisão o paradoxo desta situação. Exatamente por reconhecer o acaso como elemento decisivo na previsão e, ao mesmo tempo, absolutizar a institucionalidade da sociedade contemporânea (especialmente a conexão íntima entre o capital e a guerra), a gestão preditiva do risco tenta aprisionar o futuro exigindo um presente securitário máximo.

A combinação entre a dissolução das fronteiras entre a dimensão militar e civil e a opacidade inerente aos sistemas preditivos de vigilância criou um novo problema: estes aparatos estão se voltando contra os cidadãos, invadindo praticamente todas as dimensões da vida pública e privada. Além disto, é importante destacar as implicações geopolíticas da guerra centrada na informação e no uso preciso da força em escala global. Poucos são os Estados que possuem capacidade de gestão, recursos humanos, sociotécnicos e econômicos suficientes para tentar explorar esta via, especialmente em uma era de contração econômica generalizada. Neste cenário, portanto, o fosso entre as potências que estão próximas a este limiar tecnológico e os demais países que não conseguem operar no mesmo diapasão tende a aumentar significativamente, o que impõe escolhas difíceis para os países como o nosso.

Eduardo Barros Mariutti – Professor do Instituto de Economia da Unicamp, do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas da UNESP, UNICAMP e PUC-SP e membro da rede de pesquisa PAET&D.

Texto publicado originalmente em: Observatório de Geopolítica do Jornal GGN: Automação da Percepção e rivalidade estratégica (jornalggn.com.br)

A Política Externa dos EUA para a China

05/03/2023 12:09

por Pedro Costa Júnior

“O ciclo, que é interminável, se desenvolve do desequilíbrio para o equilíbrio e daí novamente para o desequilíbrio. Cada ciclo, contudo, conduz a um nível mais alto de desenvolvimento. O desequilíbrio é normal e absoluto, enquanto o equilíbrio é temporário e relativo.” Mao Tsé-Tung

A Política externa norte-americana, neste século XXI, apresenta dois pilares estruturantes muito bem definidos. Ambos partem de uma agenda bipartidária consensual, de republicanos e democratas. O primeiro, de caráter estrutural, pautado no “excepcionalismo histórico”, a saber, a crença fundamental de que não existe nem pode vir a existir nem uma nação acima dos Estados Unidos em termos de poder no Sistema Internacional. O que se traduz em uma política deliberada de sua supremacia militar inconteste. O segundo, intimamente ligado ao primeiro, é a contenção da China nas disputas pelo poder global no Sistema Mundial Moderno.

Os Estados Unidos demoraram demasiadamente para perceber o tamanho do desafio chinês. Foi tão somente neste século que começaram a despertar, tardiamente, para o elefante na sala.

Foi só no o governo Obama/Biden, que se intenta uma reformulação na política externa americana, para priorizar não mais o Médio Oriente, entrementes o “desafio asiático”.  A China, naquele momento, era um desafio evidente como sol do meio-dia. O então presidente democrata formulou assim, o “pivô para Ásia” e a “Aliança para o Pacífico” (TPP). Ambos fracassos retumbantes. O pivô asiático não saiu do papel porque os Estados Unidos não conseguiram sair do Oriente Médio. As “Guerras Gêmeas”, no Afeganistão e Iraque, se tornaram infinitas. Posteriormente, veio a “Guerra na Líbia”, o Iraque da Hilary. E ainda a “Guerra na Síria”, humilhante para o governo Obama. Além do surgimento do grupo terrorista ISIS. Tudo isto, no contexto da Primavera Árabe. Já o TPP (Trans-Pacific Partnership), o tratado de livre comércio que reuniria os EUA e as principais encomias da Ásia e do Pacífico, numa tentativa clara de isolar a China, foi implodido pelo governo Trump.

A Política Externa de Trump foi marcada por um isolacionismo arrogante. Com o desprezo às “Organizações Multilaterais” e até mesmo a aliados tradicionais dos EUA, como Alemanha e França. No entanto, foi na administração Trump que se iniciou a nominada “Guerra Comercial a China”.  A partir da eleição de Trump, em 2016, formou-se um consenso no Departamento de Estado dos EUA, sejam democratas, sejam republicanos, militares, políticos, congressistas de alto e baixo escalão, secretários de Estado, diplomatas, think tanks, diversas universidades e grupos de pesquisa, intelectuais a serviço do Estado, jornalistas e a mídia em geral, etc… que o grande desafio dos EUA não são mais o “terror” ou “terrorismo”, e sim, a China, e que é preciso contê-la tenazmente.

O governo Biden/Harris, após a desastrosa retirada dos EUA do Afeganistão, começou finalmente a realizar o outrora esboçado pivô para o Pacífico, a fim de conter a expansão da China. Biden passou a movimentar as peças no tabuleiro geopolítico. Criou o “QUAD” (Parceria Quadrilateral sobre Segurança entre Estados Unidos, Índia, Austrália e Japão), e posteriormente, a “AUKUS”: uma aliança de cooperação tecnológica e militar, envolvendo Estados Unidos, em conjunto com Reino Unido e Austrália. Ambos, uma evidente estratégia de contenção da China no Indo-Pacífico.

Um ponto decisivo na reorganização da geopolítica do poder, que está ocorrendo no sistema-mundo, é o envolvimento umbilical dos EUA na “Guerra da Ucrânia”. O enfrentamento à Rússia alcançou proporções sistêmicas, implicando as grandes potências globais, o que desencadeou no estreitamento de uma “aliança sem limites” sino-russa – que acabou de completar um ano neste mês de fevereiro – segundo Henry Kissinger, o pior dos cenários para a Política Externa Americana.

Os dois países anunciaram uma aliança de nível superior e sem precedentes na história do Sistema-Mundo: “As novas relações interestatais entre Rússia e China são superiores às alianças políticas e militares da época da Guerra Fria. A amizade entre os dois Estados não tem limites, não há áreas ‘proibidas’ de cooperação”, diz o documento.

O Governo Biden deu passo decisivo na contenção ao poder chinês. A “Guerra Tecnológica” contra a China. Biden divulgou um amplo conjunto de controles de exportação que proíbem as empresas chinesas de comprar chips avançados. As recentes sanções dos EUA contra a China são sem precedentes nos tempos modernos. Autoridades dos EUA falaram sobre a medida como um ato a fim de proteger os interesses de segurança nacional. Os chips que os Estados Unidos tentam controlar são semicondutores, os processadores que movem celulares, carros autônomos, computação avançada, drones, equipamentos militares – e se tornaram essenciais para a disputa tecnológica desta década.

Em síntese, a gestão Biden não só continuou a “Guerra Econômica” com a China, iniciada por Trump, como a elevou a uma “Guerra Tecnológica” e ainda a uma “Guerra Humanitária”, bem ao estilo dos democratas. Trata-se de um caminho sem volta.

Pedro Costa Júnior é doutorando do Departamento de Ciências Políticas (DCP) da USP e autor do livro “O Poder Americano no Sistema Mundial Moderno: Colapso ou Mito do Colapso?”, Curitiba: Appris, 2019.

Texto publicado originalmente em: Observatório de Geopolítica do Jornal GGN: A Política Externa dos EUA para a China, por Pedro Costa Júnior (jornalggn.com.br)

A China na economia-mundo capitalista de 1840 aos dias atuais: da incorporação forçada à integração total, voluntária e irreversível

22/03/2021 21:47

Por Pedro Vieira

Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no 14º Colóquio Brasileiro de Economia Política dos Sistemas-Mundo, Florianópolis, 10-11 de dezembro 2020. O objetivo deste ensaio é mostrar que desde 1840 até o presente, a China sempre esteve inserida na economia-mundo capitalista (E-MC), que é o sistema social histórico que surgiu na Europa no século XVI e que através da incorporação de áreas externas no final do século XIX já abarcava todo o globo terrestre. O sistema é capitalista porque a acumulação incessante de capital organiza e subordina a sociedade mundial. Essa é a regra mais importante do sistema e se impõe a indivíduos, instituições e países, que são recompensados ​​se a seguirem e punidos se a negarem. A China resistiu às tentativas anteriores e só foi incorporada na primeira metade do século XIX.  Desde então, as relações da China com a economia-mundo parecem ter passado por três fases: 1840-1949: integração forçada, parcial e fragmentada; 1949-1978: integração mínima; 1978-presente: integração voluntária, total e irreversível.

Confira o artigo completo em Dossiê China _comciência.

Tags: Chinaeconomia-mundoPedro Vieirasistema-mundo
  • Página 2 de 2
  • 1
  • 2